Já há uns dias tenho
sentido essa necessidade enorme de escrever. Parece que o que era só um
desabafo - hobby, ócio criativo, sei lá -, tem tomado mais e mais espaço numa
vida que vem se enchendo de motivos para escrever mais e mais. E que difícil escrever
sobre uma coisa de cada vez, já que as ideias transbordam...
E falar de amor,
sentimentos, sabores e tudo mais de abstrato é até tranquilo, já que o utópico toca
a todos, cada um a sua maneira. Mas hoje, na sala de espera do estúdio de
tatuagem, deu tempo de parar e refletir sobre essa agonia dos últimos dias...
Pensando muito sobre
os últimos acontecimentos divulgados pela mídia e, obviamente, mais ainda, sobre os últimos acontecimentos da MINHA VIDA, tenho me perguntado tanto sobre
esse “Ser Mulher”... será que estamos deixando esse “Ser” de lado? Ou será que na tentativa de buscar mais, para só “ser igual”, nos perdemos? Quando nos
tornamos esse “ser indecifrável”?
Esse texto não é de
teor ácido nem doce; não tem rima, nem poesia; não vai falar do dia de coisa
nenhuma, nem da tatuagem nova que fiz, enquanto pensava nisso... Nem vai agradar a muita gente...
Porque esse texto é sobre a
angústia.
Não aquela angustia da depressão, que aperta o peito e dá falta de ar... mas de uma angústia fruto
da eterna ambiguidade de simplesmente ser você mesma, MULHER, todo dia.
Esse grito da liberdade feminina nos colocou numa posição que, às vezes, nem nós mesmas sabemos como lidar...
- transar sem a
obrigação do amanhã, mas querer companhia pro teatro;
- pagar minhas contas
todas, sozinha, mas gostar de ser surpreendida com pequenos gestos;
- assistir um filme
sozinha, no cinema, mas dormir junto, de vez em quando;
- não querer morar
junto, mas cuidar e ser cuidada;
- ser forte todo dia
e, mesmo assim, precisar de um ombro pra apoiar o peso da cabeça e, as vezes,
até chorar – Sim! A gente ainda chora!
Na busca por ser
feliz (Ser feliz! Só isso!), acabamos conquistando cargos, salários... e RÓTULOS.
Lembro
de uma situação que vivi, quando fui treinar num box de crossfit, em outra
cidade:
“Cidadão: - Puxa! Você é linda! Mesmo com esse batom
aí... Não sei se pegou bem, mas eu te beijaria, hein?
Eu: - É? Conheço uma
coisa que pegaria bem na sua boca: chama Silêncio! Cai super bem quando ninguém
pede sua opinião.”
Não! Não foi galanteador, não foi engraçado, não foi simpático, nem foi um elogio! Porque se a roupa curta: tá procurando; roupa fechada: recalcada. Se
bebe, é fácil; se não bebe, é chata, careta. Se ganha bem, deu pro chefe; se
ganha mal, não correu atrás, se subestima e por aí vai...
Na real?! Eu quero
que essa merda toda SE FODA - Sim! A gente também fala palavrão! - Vou viver da MINHA maneira, porque vão julgar de
qualquer jeito, mesmo...
O fato é que muitas de nós nos tornamos MULHER DEMAIS para
os homens que tínhamos; e como muitos deles não acompanharam, se tornando MAIS HOMENS,
aprendemos que podemos viver sem eles, sem precisar deles!
Nos tornamos "MULHERES DEMAIS", para alguns "HOMENS DE MENOS"...
Então, querido, se
você não pode lidar com meu batom, com meu salário, com minha sexualidade, a porta está aberta...
TCHAU!
Eu vou fazer o que eu
quiser, quando eu quiser... e SE EU QUISER!
Seduza minha mente,
se quiser ter meu corpo.
Alessandra Zamai, em 05 de junho, de 2016 – com uma tatuagem
nova, no braço direito!